Minha analista diz que toda mulher sudável deve sofrer a revolução da maternidade.
Me considero saudável, então. Porque desde que entrei neste mundo, tudo ao redor, por dentro e por fora, está em plena fase de abertura, iluminação e renovação.
Sou, e isso ainda sou, daquele tipo que odeia papo didático sobre como ser mãe melhora, amadurece ou transforma as pessoas. Porque sempre achei que ele vinha embutido de certa lição de moral das mulheres para além dos 35 que, não sabendo envelhecer, elaboravam esse discurso da maternidade para ter algo a dizer àquela vitalidade dos 20 e poucos: eu tenho, você não tem. Também nunca curti pais que se anulam e passam a ser monotemáticos e obtusos e infantis depois que os filhos nascem. O universo da casa, da vida e da família passa a rodar em torno a programas chatos, assuntos chatos e vozes desafinadas frufru sem critério.
O processo da maternidade, pra mim, é interno. Não muda meus assuntos, meu programas, minha voz, meu discurso ou minha relação com os amigos de 20 e poucos. Muda profundamente meu coração, minha respiração, meu olhar, a vibração e intensidade de cada movimento. No começo da gravidez o movimento era tão expansivo que imaginei ser possível expor dúvidas e questões, rapidamente vi que este era um processo pessoal e silencioso. Poucos são os familiares e amigos prontos pra participar dele. Por vezes até o marido pode parecer um estranho diante daquele silêncio longo e meditativo deste processo.
O que espero conseguir é passar por isso centrada. Acumulando a menor quantidade possível de neuroses, o que significa muito, pois se o mundo burguês ocidental anda neurótico, o burguês ocidental grávido anda louco mesmo: comprar, falar, falar, falar, comprar, medo, medo, comprar, medo, dar conselhos em tom de verdade, repetir o conselho, dar mais um conselho mesmo diante de monossilábicos e encerrar com: agora vocês vão ver o que é trabalho, a vida boa acabou, ou coisas do tipo.
Lembro sempre que há sorte e há azar. Antes de existirem vítimas e algozes. Lembro também que vítima nós viramos e aceitamos, os algozes são apenas coadjuvantes do nosso show.
Pra encerrar: definitvamente uma fase dessas não cabe no facebook!